domingo, 18 de outubro de 2009

O REI ESTÁ NÚ !




Um médico para cada 160 habitantes, 16 hospitais, 35 unidades de saúde, inúmeras clínicas e farmácias, três faculdades de medicina, conveniadas com o SUS,  integrando a rede municipal de saúde, orçamento municipal para a saúde de quase o dobro do que obriga a constituição federal e, mesmo assim, filas com pessoas aguardando até 50 horas para conseguirem um leito hospitalar. Fossemos contemporâneos de William Shakeapeare a insônia de Hamlet, seu mais célebre personagem, perturbaria nossas consciências com os ecos de sua indignada exclamação: “há algo de podre no reino neoliberal”.
Na onda do neoliberalismo os entes públicos foram, aos poucos, esquivando-se de suas responsabilidades em nome de uma dinâmica de mercado apregoada como inevitável alternativa à lentidão e inapetência gerencial do estado. Com isso os serviços públicos foram privatizados, o estado desaparelhou-se e, ao poucos, fomos entronizando Sua Majestade o “Livre Mercado”. A cada investida contra as prerrogativas reguladoras do Estado, o Soberano neoliberal, feito um pavão, exibia, sob aplauso de seu séquito, a salvadora indumentária da competência, racionalização de recursos, celeridade no atendimento, mão de obra qualificada, inovação tecnológica, capacidade de investimento e  outros atributos que faziam corar as raras vozes discordantes.
Ofuscados por tanto brilho entregaram nossas empresas de telefonia, doaram auto-estradas e taxaram de incompetentes os funcionários públicos. Tudo segundo a cartilha do Senhor Mercado.  Os anos passaram e os resultados estão aí para serem vistos e analisados..  Telefonia cara e obsoleta, setor energético a reclamar  INVESTIMENTOS PÚBLICOS e  países defensores do neoliberalismo com a economia aos frangalhos a exigir RECURSOS PÚBLICOS para não sucumbir de todo. De repente ficou impossível calar o grito de que “O REI ESTÁ NÚ”.
Na área da saúde, setor com o qual estou familiarizado, a nudez do Rei é patente.  A ausência de leitos, as dificuldades para se conseguir a regulação para internações, com exceção daquelas disputadas pelos hospitais, o desinteresse de profissionais da saúde pelos concursos públicos, o sofrimento da população que enfrenta o dilema de pagar os altos custos de um plano de saúde ou, em momento de necessidade, rezar pela vaga que poderá salvar-lhe a vida.
Temos insistido na necessidade do poder público recuperar sua capacidade gerencial sobre as demandas na saúde.  Há tempos que propomos a criação do Hospital Municipal, a adoção do programa de Internações Domiciliares e a valorização do servidor como políticas públicas para reverter a situação na área da saúde.  Recentemente, a prefeita Darcy Vera anunciou aos vereadores a sua disposição em conhecer experiências bem sucedidas em que, através de parcerias públicas privadas, a equação da saúde encontrou parâmetros satisfatórios.  Enquanto isso não acontece instamos novamente a prefeita a adotar o Programa das Internações Domiciliares, a valorizar o servidor público e, dessa forma, unir a sua voz a nossa proclamando a nudez do Rei.

Dr. Jorge Parada
Médico e vereador – PT